Não adoção do princípio de parcimônia exigida para as teorias científicas, princípio este que consiste em assumir a explicação mais simples para o fenômeno do comportamento. A adoção deste princípio garante uma maior facilidade no aprendizado e entendimento da teoria( teria que passar por menos processos de aprendizagem e entendimento); daria mais chances da teoria ser verdadeira( já que menos premissas deveriam se testadas);Além de ser um critério para escolha dentre diversas hipóteses possíveis.Esse critério não é simplista, pois não se visa nele exclusão de qualquer aspecto da realidade a ser abrangido por uma teoria.Esse critério também é chamado,as vezes, de Navalha de Occam.
A outra crítica é a crítica a um problema lógico( e pragmático) que surge da concepção mentalista.O problema consiste na circularidade que certos pensamentos mentalistas colocam quando tentam explicar científicamente o comportamento.Digo científicamente, pois quando se trata desse tipo de explicação, não buscamos uma definição ou essência de um comportamento, mas de uma causa material.Um evento que ocorreu temporalmente antes do comportamento, que o originou, e como se trata de ciência, que seja observável.Nesse caso, a mente ou até mesmo outras entidades internas não observada ou até então inobserváveis(como supostos mecanismos fisiológicos que não se conhece qualquer método de observação) são usadas como pseudo-explicação para o comportamento.
Essas entidades são inferidas exclusivamente com base na existência do comportamento e são usadas para a explicação do mesmo.Isto é a circularidade a qual me referia , pois do comportamento dizemos que existe a mente e a mente cria o comportamento, ora , se falamos em mente apenas quando ocorre o comportamento , e nada mais, então a mente não seria um termo que se refere ao próprio comportamento ? Vou dar um exemplo, que esclaresce a situação.Imaginemos que sempre ao se falara em 'água' utilizemos também a palavra 'terra' e em nenhum outro caso, não poderíamos falar da água apenas usando o termo 'terra'?
Diversos filósofos concordaram com essas críticas entre eles os pragmáticos , como Gilbert Ryle ,que foi um grande filósofo a tratar da mente, e Ludwig Wittgenstein cuja a especialidade se encontra nos domínios da linguagem e conhecimento.Então há de se fazer uma pergunta, com toda essa fundamentação, por que o mentalismo não acabou ?Bem a questão é mais complicada do que simplesmente ser racional.Se nossa cultura nos preparasse para sermos racionais ( e isso não implica em ausência de emoção ou de ser puramente racional), muitos de nossos problemas filosóficos e científicos estariam resolvidos ... mas então ...
O que mantém essa forma de pensamento ?
Arriscarei uma análise pouco aprofundada.Existem muitos estudos que buscam entender o apelo que o mentalismo tem sobre as pessoas e por que pode ser difícil enxergar suas falhas epistemológicas, lógicas e pragmáticas.Existe antes de tudo a tradição mentalista.Nossa cultura passou por condições que levaram a surgir e até manter o mentalismo, nesse sentido o mentalismo pode ser pensada tanto como uma questão psicológica como sociológica, sendo a primeiro uma questão de comportamento do indivíduo e a segunda uma questão de comportamento dos grupos sociais .
Aprofundando na questão do indivíduo, existem possíveis condições(contingências) tanto sociais como não-sociais.Sobre as condições sociais,dentro da academia existe todo um conjunto de condições que incentivam a produção, tanto no sentido institucional de prover recursos financeiros quanto de apoio pelas pessoas que vêem trabalhos sendo publicados com raciocínios mentalistas.Fora da academia, temos a cultura religiosa, que teme perder espaço para a ciência dentro das ciências humanas e sociais também.Ainda, num domínio pessoal, é incentivado a supervalorização de qualidades pessoais como se elas fossem explicação para alguém ter o sucesso que tem ou para explicar as limitações que alguém possui.
No campo extrasocial, o mentalismo surge como uma "explicação", que não é tão bizarra como a atribuição de explicações a uma entidade sobrenatural que não seja o indivíduo, como já houve em outros momentos da história, com os deuses e outras entidades, ou como no caso do esquizofrênico, que pode pensar estar sendo controlado por outras pessoas.
Esses elementos são só alguns que podem estar envolvidos na adoção do mentalismo.Outros que não foram abordados são elementos que fazem culturas resistirem ao mentalismo, que não tratarei por enquanto.Essas condições mantenedoras do mentalismo alienam o indivíduo de aquilo que controla seu próprio comportamento.Desta forma, o indivíduo fica à mercê da sua suposta natureza mental imutável e quando não é considerada imutável é pelo menos incontrolável.O autocontrole, nessa concepção, é impossível, embora se tenha a ilusão de que é absoluto(manifestação da continuidade da tradição cartesiana) e que portanto não busca ser conquistado.
Esta crença no autocontrole absoluto, e que levam o indivíduo a não pensar sobre as condições que te controlam, foi perdendo espaço para outras concepções do homem, como as concepções formuladas por Freud, Skinner e outros. O Homem com Freud deixou de ser dono da sua própria casa e ,com Skinner, este Homem descobre uma maneira de conquistá-la pouco a pouco e numa luta progressiva.Claro que a Análise do comportamento não induz a busca de um autocontrole obsessivo, no sentido de ser necessário controlar todos os aspectos de si mesmo.Por outro lado, mesmo a diminuição da obsessão por autocontrole é uma questão de controle. Não ficar angustiado por não ser perfeito, então, é autocontrole no sentido behaviorista.
A alienação promovida por essa forma de pensamento mantém as condições sociais atuais.O rico, quando acredita que tudo que obteve foi exclusivamente por mérito de suas qualidades intrínsecas, não reflete sobre as condições necessárias para ser rico.O pobre da mesma forma não busca no sistema social em que está inserido razões para sua pobreza.Outras questões sociais, como a crença numa natureza interna e imutável também leva ao surgimento de esteriótipos e o desencorajamento da mudança.Assim o psicopata e aqueles a sua volta acreditam na imutabilidade da condição de psicopatia e o paciente psiquiátrico não busca tratamento.Neste último caso, ocorre também o rotulação de um defeito eterno de si mesmo que o paciente teria que carregar, caso buscasse ajuda.A rotulação, tão criticada por aí, é justamente mais um aspecto do mentalismo, mas isso é um assunto para outro post...
Para saber mais :
Navalha de Occam
http://pt.wikipedia.org/wiki/Navalha_de_Occam
Mentalismo e explicação do comportamento: aspectos
da crítica behaviorista radical à ciência cognitiva
http://www.revistas.unam.mx/index.php/acom/article/viewFile/18121/17242
Nem Ryle, nem Wittgenstein foram filósofos pragmatistas.
ResponderExcluirOlá anônimo,
ResponderExcluirSim eu errei em colocar o Ryle como pragmatista, pois achei que ele sendo behaviorista , seria pragmatista ... não necessáriamente.
Quanto a wittgenstein...
Há controvérsias...
olhe o link :
http://en.wikipedia.org/wiki/Pragmatism
Wittgenstein não é um pragmatista e este texto do wikipedia não apresenta nenhum argumento para enquadra-lo em tal corrente de pensamento. O que vejo é que parte da filosodia do Wittgenstein foi recuperada por alguns filósofos norte-americanos que se consideram pós-analítico, como, por exemplo, o Richard Rorty.
ResponderExcluirO Behaviorismo tb não é um tipo de Pragmatismo. É possível fazer uma aproximação entre algumas teses behavioristas e pragmatistas, mas não há uma relação necessária entre as duas escolas. Incusive, na exegese do pensamento skinneriano, um misto de teses pragmatismas e positivismas parece ser a classificão mais aceita.
Mas estas questões são sempre polêmicas mesmo e este erro que vc cometeu é secundário para a compreensão do texto.
Sorte com o blog.
Bom,
ResponderExcluirNão vejo como classificar o behaviorismo Skinneriano como positivismo, visto que este behaviorismo não é realista.Para ser realista, este behaviorismo deveria ser antes dualista, pois o realista considera que exista uma realidade última e de uma substância diferenciada da substância inextensa de Descartes(Mente).
O pragmatismo no behaviorismo Radical é bastante, mas é possível que ele não se classifique perfeitamente como pragmatista.
Quanto a wittgenstein, certamente o link que coloquei sobre o wittgenstein não prova, mas indica que não sou o único a pensar desta forma.Pelo que já li, a concepção de jogos linguagem e significado de wittgenstein, na sua segunda fase(investigações filosóficas), é bastante semelhante( se não igual) a proposta do entendimento do comportamento verbal.
No investigações filosóficas, wittgenstein coloca que o significado da palavra é dado pelo contexto, ou em outras palavras, pelo jogo que está sendo estabelecido num dado momento.Da mesma forma, comportamento verbal é concebido segundo sua função, que é contextual, mesmo o significado, como é tratado por Skinner, é tomado como sinônimo de uso, assim como wittgenstein.
Essa noção de uso é central no pragmatismo.
Pelo menos esse é o meu entendimento dessas relações.
abraços e obrigado pelo comentário !
Então há de se fazer uma pergunta, com toda essa fundamentação, por que o mentalismo não acabou ?
ResponderExcluir----------
Pode até parecer um comentário ridículo, mas o Skinner não trata deste tema em seu livro "Mito da Liberdade" ?
Não menospreze seu comentário anônimo, ele revela uma busca por conhecimento e isso nunca deveria ser menosprezado !
ResponderExcluirEntão, ele aborda indiretamente, pois se refere a questão da liberdade , dignidade , punição e outras questões relacionadas, mas não o mentalismo como um todo.O que eu expus pode ser entendido como um esboço para se entender por que o mentalismo, sendo tão falho, não desaparece de uma hora para outra.
abração,
espero ter respondido adequadamente sua pergunta.
Pedro, você está sendo teimoso na insistência em classificar Wittgenstein como pragmatista. Primeiro porque o Prgamatismo dá maior ênfase à experiência na hora de começar suas construções teóricas, enquanto Wittgenstain parte do conceito de linguagem para tecer seus comentários. Segundo porque os pragmatistas defendem variações da doutrina do realismo, enquanto Wittgenstein possui uma atitude que é chamada hoje anti-realista. Um adendo: há na filosofia várias formas de realismo e não somente o 'realismo ingênuo' apontado por você. James, por exemplo, defende uma forma de realismo que é compatível com o falibilismo e com a sua concepção de monismo neutro. Em última análise, Wittgenstein é, assim como Ryle, um filósofo analítico e não um filósofo pragmático.
ResponderExcluirUma das grandes influências do Skinner foi a obra do físico austríaco Ernst Mach, um positivista! Isto, por si só, torna possível fazer aproximações entre o Behaviorismo Radical e Positivismo. Há ainda autores, como o Moxley, que dizem que há duas fases no trabalho do Skinner: a primeira positivista e a segunda pragmatista. Zuriff e Hayes defendem que há uma mistura entre teses positivistas e pragmatistas que atravessam toda a obra do Skinner.
Sinceramente, espero que estas correções sirvam como incentivo para você procurar conhecer melhor estas correntes filosóficas. Começar pelos textos originais sempre é aconselhável e a internet facilita muito isto atualmente.
Tenha um bom dia.
Olá Anônimo,
ResponderExcluirBom já expliquei as relações do pragmatismo com Wittgenstein , também já mostrei que não sou o único a pensar desta forma.Quanto a questão da ênfase , colocada por você, não a vejo como argumento dado que o termo ‘ênfase’ não é muito bem definido, com isso me pergunto, o que significa algo ser enfatizado? Ou dizer que alguém trata muito de um assunto e pouco de outro? Não vejo que dá para se classificar uma obra ou perspectiva com esse tipo de termo.
Sobre Wittgenstein, ao contrário do que você disse, ele não parte da linguagem, mas da experiência, tanto que seu primeiro exemplo do investigações filosóficas(lembre-se que estou falando do segundo wittgenstein) o primeiro exemplo se refere a descrição da experiência em que se adquire conhecimento dos primeiros termos( retomando um exemplo do santo agostinho).Além disso, sempre para se argumentar algo sobre a linguagem ele parte de um exemplo para construir seus conceitos sobre os jogos de linguagem.
Não existe apenas o realismo ingênuo, mas o pragmatismo não me parece de maneira nenhuma realista, pois o realismo pensa o significado das palavras, das frases e dos elementos lingüísticos como uma correspondência como uma realidade(externa).O pragmatismo pensa o significado a partir dos uso das palavras ao invés de uma suposta correspondência, tal qual Wittgenstein.
O pragmatismo não é incompatível com a filosofia analítica e ser influenciado pelo positivismo não é a mesma coisa que ser positivista, pois se assim for considerado, todos os filósofos recentes( ou praticamente todos) seriam positivistas por terem lido alguma vez alguma obra de algum positivista ou por ter lido alguém que tenha sido influenciado diretamente por alguma obra positivista.A influência, não nego, só nego que o behaviorismo radical seja positivista, justamente por esse pressupor o dualismo.Caso queira conhecer mais busque o livro do Baum, compreender o behaviorismo.Ele é bem introdutório, mas é possível conseguir referência para diversos textos interessantes na bibliografia de cada capítulo.
Abraços e obrigado pelo comentário