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domingo, 19 de setembro de 2010

Arte Comportamental

Mangue Beat, Da lama ao Caos

    Bem, este é o primeiro post da série Arte Comportamental. Pretendo com ela, comentar um pouco sobre um aspecto interessante e pouquíssimo explorado que é o de como algumas noções behavioristas estão sendo expressas em certas formas de arte como música, literatura e outras.
    Para inaugurar essa seção vou buscar analisar uma música do Chico Science,   (* 13/03/1966 - 2 /02/1997 †) que juntamente com a banda Nação Zumbi, deram início ao movimento musical chamado Mangue Beat. Apesar da morte de Chico, ex-vocalista da Nação Zumbi, o movimento ainda continua em bandas como Otto, mundo livre S.A. assim como a própria Nação Zumbi. Esse movimento se caracteriza pela forte crítica social que se encontra em algumas de suas letras e a mistura entre o tecnológico e a pobreza, miséria, expondo uma certa confusão entre áreas aparentemente distintas da experiência nas cidades, isso se dando tanto na sonoridade quanto nas letras.
Após essa breve introdução, observemos e escutemos com mais cuidado uma das músicas de Chico Science & Nação Zumbi, a música da Lama ao Caos:

Breve vídeo sobre Chico Science e a música da lama ao caos:


Da lama ao caos

Posso sair daqui para me organizar
Posso sair daqui para desorganizar
Posso sair daqui para me organizar
Posso sair daqui para desorganizar

Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana

O sol queimou, queimou a lama do rio
Eu ví um chié andando devagar
E um aratu pra lá e pra cá
E um carangueijo andando pro sul
Saiu do mangue, virou gabiru

Ô Josué, eu nunca ví tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça

Peguei um baláio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma véia, pegou a minha cenoura
“Aí minha véia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir”
E com o bucho mais cheio começei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar

    Os quatro primeiros versos refletem uma fuga do Eu-lírico, o personagem da música aponta já a necessidade de se organizar e de desorganizar algo.Esta organização já é um prelúdio, uma preparação para os versos seguintes, nos quais vão ser retomados essas mesmas idéias.Organização e desorganização podem ser tomadas, dentro da perspectiva comportamental, como controle e contra-controle respectivamente, sendo que, para exercer tanto o contra-controle como o controle, nosso personagem vê como alternativa a fuga, agora fuga de que? Bem, vejamos os próximos versos.
    Na próxima estrofe, a música intensifica a sensação de caos, lama e problemas sociais, sendo este último elemento melhor clarificado nas próximas estrofes. Caos e lama não necessariamente indicam algo problemático no Mangue beat. Tanto a lama quanto o caos são temas recorrentes neste movimento assim como elementos do mangue, sendo este ecossistema escolhido devido a uma certa riqueza e diversidade de seres vivos, apesar de viverem num ambiente, que a princípio, parece inóspito e cheio de impurezas.
    Costuma-se aproximar o homem, neste movimento, ao caranguejo, da mesma forma que este vive no lamaçal o homem pode viver na sujeira e miséria e ambos os ambientes podem ser ricos e vida, cada um a sua maneira. Assim, lama e caos representam coisas distintas , sendo o primeiro a miséria (e a riqueza, tal como o mangue) e o caos a diversidade e a confusão.Os problemas sociais são refletidos pelo roubo anunciado nesta estrofe e que é retomada ao longo da música.
    A próxima estrofe complementa o que já foi dito, tanto falando de elementos do mangue como o caranguejo e aratu, e da fuga no último verso, citando a funga de um caranguejo(pessoa) que foi para o sul. Os dois versos seguintes enfatizam, novamente, a miséria e problemas sociais, comparando o personagem com algo prestes a morrer e ao mesmo tempo se referindo, possivelmente, a pessoas que vão se aproveitar do personagem como urubus.
    O controle ,no behaviorismo, é a influência que certos eventos têm sobre o comportamento, sendo possível o organismo exercer o controle sobre algum de seu comportamento ao modificar as condições em que ele se encontra.O contra-controle é uma forma de controle especial em que existe uma 'resistência' do organismo que contra-controla a um determinado tipo de controle exercido por outras pessoas, ou seja, contra-controle é um controle exercido por uma pessoa sobre o controle que outras pessoas exercem sobre seu comportamento. Após esse introdução, podemos falar da última estrofe. A última estrofe aponta como a miséria pode ser vir para o controle do povo e como este pode contra-controlar. Os quatro primeiros versos relatam sobre um roubo que o personagem realiza por necessidade, evidenciando novamente a miséria do personagem. Ao mesmo tempo, os quatros versos seguintes, apontam a relação da miséria com o controle despótico que uma certa forma de organização pode realizar(mesmo sem ter muita percepção disto).A miséria e a fome impedem o povo de pensar e contra-controlar, pois este ao invés de pensar formas de mudar sua realidade social e tecnológica, está fortemente condicionado a buscar a alimentação imediata ou recursos mínimos para se viver. Os dois últimos versos revelam a relações entre o controle e contra-controle recebendo ,nesse caso, o nome de organizar e desorganizar, respectivamente.Isso é claro quando pensamos que desorganizando a realidade social do personagem, este, pode se organizar(controlar a si próprio), fugindo dos grilhões da fome e miséria na qual se encontra e, ao se organizar(controlar a si próprio) ele pode planejar e colocar em ação uma forma de desorganizar(contra-controlar) sua realidade social.

Em outras palavras, o personagem se dá conta que controlando a si mesmo pode contra-controlar e contra-controlando pode controlar a si mesmo.

6 comentários:

  1. super interessante, porém o blog com plano de fundo preto e letras brancas fica bonito, mas bem cansativo pra ler....

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  2. Sua escrita melhora a cada instante!
    Tenho muito orgulho de você, meu bem :)
    te amo.

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  3. Acredito que o teu texto em síntese traz o seguinte: é como se a forma pela qual a sociedade se organiza desorganizasse a organização de alguns indivíduos.

    Ou melhor, a sociedade exclui, mas exclui pra se organizar, e ao excluir deixa um contingente enorme de indivíduos desorganizado, sem estrutura materiais básicas para sobreviver. Então esses indivíduos ao se organizarem, desorganizam a ordem, a tal da organização.

    Tu trouxeste algo diferente, e até se saiste bem como crítico literário.

    Gostei, Pedro

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  4. Olá Jamile,

    Muito bom saber que eu tenha trazido algo diferente!

    abraços

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