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sábado, 11 de setembro de 2010

Genético ou cultural ?

Ao longo da história da psicologia e ,atualmente, costuma se discutir a importância da genética e da cultura na constituição do sujeito, mais especificamente buscando saber qual é mais importante, genética ou cultura. Esta questão possui diversos problemas na sua formulação.
    O primeiro deles reside no termo “genética”.Por vezes, ele é dado como sinônimo de “material genético”, ou seja, DNA e RNA .Este material, sobre o qual atua mecanismos embrionários de formação do indivíduo, mecanismos maturacionais e, possivelmente, de alguma forma, todo o funcionamento do organismo, seria o causador ou influência para o surgimento de comportamentos. Esta forma de pensar é problemática por obscurecer toda a influência da história que deu origem a este material, a história filogenética ou da espécie. Poderia-se argumentar que isto é um purismo excessivo com os termos e que, no cotidiano, “genética é tão útil quanto “filogenética”.Num certo sentido isto é válido, pois não há, necessariamente, um descaso com a filogenética para se entender o comportamento ao se utilizar o termo genética. Por outro lado, “genética” satisfaz ilusoriamente como uma explicação ou parte da explicação do comportamento, além de ignorar a possibilidade de mudança genética ao longo da vida, pois toma material genético como sinônimo de influência de variáveis inatas. Além disso, há de se pensar que o material genético, com suas propriedades físico-químicas é um indicativo de que o organismo se comportará de uma determinada forma e não o causador do comportamento per se, já que processos comportamentais incluem atividades genéticas e mudanças nesse material. Assim a questão poderia ser reformulada da seguinte forma:

    “Qual o mais importante, a cultura ou a filogenética?”

    Outra questão é o uso do termo ‘cultura’. Ela dá a falsa sensação de que se o comportamento não é ou tem origem  filogenética, necessariamente seria cultural. Essa falha é bem grande por sinal, pois existem diversas influências ambientais que não são redutíveis a culturais. Por exemplo, aprender a andar, apesar de depender , muitas vezes, de uma atenção dispendida por cuidadores de uma criança nos primeiros anos de vida, também depende das propriedades físicas do ambiente no qual a criança se encontra, como o atrito do chão , a maciez do mesmo, uso ou não de meia ou sapatos pela criança,etc. Além dessas condições sociais e da física do ambiente,ainda resta questões relativa a questões químicas, como aromas e gostos que podem influenciar o apetite, por exemplo, e condições relacionadas com o próprio indivíduo, em alguns casos.Formulemos a questão da seguinte forma então:

    “Qual o mais importante, o ambiente ou a filogenética?”

    Outro problema é o termo ambiente. Alguns analistas comportamentais, assim como alguns psicólogos, no geral, consideram ambiente como um ambiente histórico ou como se incluísse a história de vida do indivíduo. O ambiente pode ser considerado desta forma, mas o termo pode causar confusão, além de aumentar a dificuldade para se referir a eventos instantâneos ou atuais. É, então, mais apropriado, então utilizarmos o termo história de vida ou ontogenia. Esta história incluiria o ambiente, em diversos momentos, mas este não seria sinônimo daquele e desta forma teria sentidos diferentes.
Por vezes, a questão é colocada de outra forma, como :

‘O comportamento é mais genético ou ambiental?

Neste caso, o problema da questão é confundir a causa de um ou de o comportamento com suas causas e/ou influências. Mesmo que essa influências sejam muito próximas temporal e espacialmente dos efeitos que causam, podem e devem ser distinguidos dos eventos que elas causam. Uma forma alternativa e igualmente legítima ao questão que envolve os termos ontogenia e filogenia é :

“O comportamento é mais inato ou adquirido?”

A única diferença entre “O comportamento é mais inato ou adquirido?” e “Qual o mais importante , a ontogenia ou a filogenia ?” é que esta última questão envolve a questão histórica enquanto que a primeira não envolve história , necessariamente, no termo inato(mas envolve no adquirido.). Reformulando a pergunta ficamos com:

“Qual o mais importante , a ontogenia ou a filogenia ?”

    O último ponto é sobre a questão da importância. Claro que a importância se refere a uma maior influência da ontogenia ou da filogenia e não de um valor moral. A dificuldade de responder a essa questão, durante tanto tempo, nos faz questionar se a pergunta foi bem formulada. Falta um critério que possa ser adotado para verficarmos o grau de influência da filogenia ou ontogenia. Nesse caminho, existem diversas métodos que visam demonstrar qual tem maior influência como, estudo com gêmeos, estudo fósseis etc, mas é difícil de considerar seus resultados e compará-los se não existe um conjunto de critérios que se aplique a todos e que indique o que significa ter mais ou menos importância. Chegamos, então a conclusão de que a questão não pode ser respondida. Analisemos um exemplo para entender um pouco mais a questão. O que significa quando um estudo diz uma coisa do tipo “Esse comportamento tem 30 % de influência genética.”?A primeira coisa que se pode pensar é que, em média, a cada 10 pessoas com uma determinada composição genética, existem 3 que adotam o comportamento.Com um pouco mais de cuidado, verifica-se que existe algo subentendido na afirmação para que ela seja verdadeira.É que são 30% de influência genética, para determinadas condições.
Condições planetárias, sociais e de diferentes ordens que podem afetar o determinado comportamento, mas que não variam o suficiente para mudar a proporção, apesar de ser possível haver essa variação.Que que isto quer dizer? Quer dizer que não dá para determinar tal proporção, pois ela depende da história do indivíduo como da história anterior ao indivíduo. A primeira é continuação da segunda e deve ser encarada como algo que interage e não como algo que compete com a história anterior ao indivíduo. Assim como somos o que somos por aquilo anterior a nossa existência, também somos o que somos pelo que ocorreu nela!





Para saber mais:

Fatores hereditários e ambientais no desenvolvimento: a adoção de uma perspectiva interacionista

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt



2 comentários:

  1. Muito bom o blog, Pedro! É extremamente importante nos posicionarmos a partir de um prisma interacionista entre os níveis de seleção (a graduação, para efeito didático, me parece que acaba nos ensinando, como os filósofos modernos aprenderam, que 'inato' e 'adquirido'são como forças que entre si eternamente competem).

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  2. Obrigado pelo comentário Silier! Acho importante seu posicionamento e vejo que um dos problemas atuais é que vemos o 'inato'e 'o adquirido' ainda muito como forças que disputam ao invés de ver como partes de uma mesma história de formação do indivíduo.

    sinta-se a vontade para dar mais sua opinão.
    abração!!

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