O primeiro deles reside no termo “genética”.Por vezes, ele é dado como sinônimo de “material genético”, ou seja, DNA e RNA .Este material, sobre o qual atua mecanismos embrionários de formação do indivíduo, mecanismos maturacionais e, possivelmente, de alguma forma, todo o funcionamento do organismo, seria o causador ou influência para o surgimento de comportamentos. Esta forma de pensar é problemática por obscurecer toda a influência da história que deu origem a este material, a história filogenética ou da espécie. Poderia-se argumentar que isto é um purismo excessivo com os termos e que, no cotidiano, “genética é tão útil quanto “filogenética”.Num certo sentido isto é válido, pois não há, necessariamente, um descaso com a filogenética para se entender o comportamento ao se utilizar o termo genética. Por outro lado, “genética” satisfaz ilusoriamente como uma explicação ou parte da explicação do comportamento, além de ignorar a possibilidade de mudança genética ao longo da vida, pois toma material genético como sinônimo de influência de variáveis inatas. Além disso, há de se pensar que o material genético, com suas propriedades físico-químicas é um indicativo de que o organismo se comportará de uma determinada forma e não o causador do comportamento per se, já que processos comportamentais incluem atividades genéticas e mudanças nesse material. Assim a questão poderia ser reformulada da seguinte forma:
“Qual o mais importante, a cultura ou a filogenética?”
Outra questão é o uso do termo ‘cultura’. Ela dá a falsa sensação de que se o comportamento não é ou tem origem filogenética, necessariamente seria cultural. Essa falha é bem grande por sinal, pois existem diversas influências ambientais que não são redutíveis a culturais. Por exemplo, aprender a andar, apesar de depender , muitas vezes, de uma atenção dispendida por cuidadores de uma criança nos primeiros anos de vida, também depende das propriedades físicas do ambiente no qual a criança se encontra, como o atrito do chão , a maciez do mesmo, uso ou não de meia ou sapatos pela criança,etc. Além dessas condições sociais e da física do ambiente,ainda resta questões relativa a questões químicas, como aromas e gostos que podem influenciar o apetite, por exemplo, e condições relacionadas com o próprio indivíduo, em alguns casos.Formulemos a questão da seguinte forma então:
“Qual o mais importante, o ambiente ou a filogenética?”
Outro problema é o termo ambiente. Alguns analistas comportamentais, assim como alguns psicólogos, no geral, consideram ambiente como um ambiente histórico ou como se incluísse a história de vida do indivíduo. O ambiente pode ser considerado desta forma, mas o termo pode causar confusão, além de aumentar a dificuldade para se referir a eventos instantâneos ou atuais. É, então, mais apropriado, então utilizarmos o termo história de vida ou ontogenia. Esta história incluiria o ambiente, em diversos momentos, mas este não seria sinônimo daquele e desta forma teria sentidos diferentes.
Por vezes, a questão é colocada de outra forma, como :
‘O comportamento é mais genético ou ambiental?
Neste caso, o problema da questão é confundir a causa de um ou de o comportamento com suas causas e/ou influências. Mesmo que essa influências sejam muito próximas temporal e espacialmente dos efeitos que causam, podem e devem ser distinguidos dos eventos que elas causam. Uma forma alternativa e igualmente legítima ao questão que envolve os termos ontogenia e filogenia é :
“O comportamento é mais inato ou adquirido?”
A única diferença entre “O comportamento é mais inato ou adquirido?” e “Qual o mais importante , a ontogenia ou a filogenia ?” é que esta última questão envolve a questão histórica enquanto que a primeira não envolve história , necessariamente, no termo inato(mas envolve no adquirido.). Reformulando a pergunta ficamos com:
“Qual o mais importante , a ontogenia ou a filogenia ?”
O último ponto é sobre a questão da importância. Claro que a importância se refere a uma maior influência da ontogenia ou da filogenia e não de um valor moral. A dificuldade de responder a essa questão, durante tanto tempo, nos faz questionar se a pergunta foi bem formulada. Falta um critério que possa ser adotado para verficarmos o grau de influência da filogenia ou ontogenia. Nesse caminho, existem diversas métodos que visam demonstrar qual tem maior influência como, estudo com gêmeos, estudo fósseis etc, mas é difícil de considerar seus resultados e compará-los se não existe um conjunto de critérios que se aplique a todos e que indique o que significa ter mais ou menos importância. Chegamos, então a conclusão de que a questão não pode ser respondida. Analisemos um exemplo para entender um pouco mais a questão. O que significa quando um estudo diz uma coisa do tipo “Esse comportamento tem 30 % de influência genética.”?A primeira coisa que se pode pensar é que, em média, a cada 10 pessoas com uma determinada composição genética, existem 3 que adotam o comportamento.Com um pouco mais de cuidado, verifica-se que existe algo subentendido na afirmação para que ela seja verdadeira.É que são 30% de influência genética, para determinadas condições.

Para saber mais:
Fatores hereditários e ambientais no desenvolvimento: a adoção de uma perspectiva interacionista
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000200004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Muito bom o blog, Pedro! É extremamente importante nos posicionarmos a partir de um prisma interacionista entre os níveis de seleção (a graduação, para efeito didático, me parece que acaba nos ensinando, como os filósofos modernos aprenderam, que 'inato' e 'adquirido'são como forças que entre si eternamente competem).
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Silier! Acho importante seu posicionamento e vejo que um dos problemas atuais é que vemos o 'inato'e 'o adquirido' ainda muito como forças que disputam ao invés de ver como partes de uma mesma história de formação do indivíduo.
ResponderExcluirsinta-se a vontade para dar mais sua opinão.
abração!!